sexta-feira, 21 de novembro de 2008
RE: O Funk é Rastafári!
Os caras do DigitalDubs, um sound system aqui do Rio, também tiveram o mesmo insight que eu! Tanto que gravaram um mixtape que mistura o batidão do Funk com o ritmo do Dancehall. Vou botar aqui pra quem quiser conferir, ficou bem interessante.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Os sujos ou os mal lavados? Eis a questão.
Vale lembrar que Gabeira foi secretário do César Maia, assim como Paes foi subprefeito. Então ambos participaram do governo anterior, e não seria uma surpresa que o novo governo fosse apenas uma continuação do outro.
Vale lembrar também que o Gabeira sempre se mostra envergonhado e arrependido de uma das únicas coisas que o fazem merecer o título de "alternativo", que foi o tal sequestro ao embaixador americano.
A classe média pode reclamar de forma individualizada, talvez o governo do Gabeira pudesse ter alguns detalhes diferentes do Paes. Mas convenhamos que a classe mais necessitada e carente de ações do Estado são os menos abastados e, olhando o planejamento de ambos os candidatos, não vejo diferença no tratamento que essa classe receberá.
Vou citar um exemplo que vemos nas duas campanhas. As tais políticas de “limpeza” do Centro e de outras áreas ditas abandonadas. No papel parece tudo muito lindo, vamos poder andar tranqüilos pelas calçadas sem vermos cenas de mendigagem e sem nos preocuparmos com furtos de “pivetes”. Mas porque nunca perguntam o destino que esses mendigos e pivetes terão? Conheço gente engajada no movimento de sem-tetos (meus pais, por exemplo) e tenho certeza que eles sabem realmente o drama que existe por traz dessas políticas de “higienização urbana”.
Apenas inventar soluções superficiais ou maquiar problemas mais profundos não é o que o Rio precisa pra mudar sua situação. Qualquer candidatinho consegue prometer que vai botar a poeira pra debaixo do tapete, mas essa poeira está se acumulando cada vez mais. E, sinceramente, não consigo ver um prefeito se propor a "aspirar" de vez toda essa sujeira.
Eu não consigo ter crença no processo eleitoral. Talvez boa parte dessas 927 mil abstinências sejam pessoas desacreditadas como eu. Pessoas que não conseguem pôr esperanças nessa democracia fajuta, onde sempre se elege um sujo em vez de um mal lavado
P.S:
Revolução é uma mudança completa e profunda, uma alteração das bases e estruturas políticas, econômicas e sociais que prevalecem. Acredito que só assim as coisas vão mudar pra valer.
Acredito numa revolução e não apenas em reformismos.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Coisas da interatividade.
Mas essa interatividade, mesmo que limitada, nos proporcionou duas situações cômicas e constrangedoras a pouco tempo.
Coincidência ou não, as duas situações aconteceram em programas esportivos, quando o apresentador lê mensagens enviadas pelo público. A primeira vítima foi o apresentador do programa Sport Center (ESPN Brasil) e o segundo, depois de alguns dias, foi o narrador da Globo, num jogo de futebol de salão. Confira e repare no nome dos participantes:
Na hora da transmição os apresentadores não se tocaram, ou fingiram que não, mas com certeza proporcionaram bastantes gargalhadas de muita gente, ainda mais dos engraçadinhos (ou, de repente, do mesmo cara) que mandaram esses trotes à la Bart Simpson.
É... A interatividade com os meios de comunicação ainda pode ser restrita e limitada. Mas nos mostrou alguma serventia, pelo menos, humorística. Hoje em dia, o Oscar Alho, o Jacinto Pinto e o Timelo Aquino Rego encontram facilidades de interação que antigamente eram raríssimas na grande mídia.
sábado, 27 de setembro de 2008
Escute e relaxe... (e goze, se quiser)

Outro rótulo que certas músicas recebem é o de Lounge Music, que na verdade são músicas propicias à ambientes como restaurante, bares, salas de espera e até aeroportos. Hoje em dia muitos proprietários dão grande atenção à trilha sonora de seus estabelecimentos, já que isso é fundamental para criar o “clima” do recinto.
Vou disponibilizar pra vocês uma mixtape (set totalmente mixado, non-stop) que se enquadra nessas duas ocasiões acima. A playlist tem uma levada bem sensual e vem recheada de Trip-Hop, Soul, Downtempo, Reggae, R&B, etc. Uma mistureba que deu certo.
Issac Hayes - Ike's Rap
Racionais Mc's - Jorge da Capadócia
Tricky - Hell Is Around The Corner
Justin Timberlake - Until The End Of Time
Ayo - Down On My Knees
Zero 7 - Destiny
Bob Marley - Stir It Up
Erykah Badu - Didn't Cha Know
702 - Finding My Way
Marvin Gaye - Let's Get It On
Isley Brothers - Between The Sheets
8mm - Nothing Left To Lose
Corinne Bailey Rae - Trouble Sleeping
Bonobo - Noctuary
50 Cent & Robin Thicke - Follow My Lead
Sunshine Anderson – Heard It All Before
Groove Armada – My Friend
Thievery Corporation - Warning Shots
Waiwan – Feelin Me Feelin You
Amy Winehouse – You Know I’m No Good
AWOL One - Rythm
Duração: 77 Min
Tamanho: 72 MB
Link 1: http://w17.easy-share.com/1701582176.html
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
RE: Mertiolate ou água-oxigenada ?
“O governador Sérgio Cabral não tem nenhuma dúvida de que comanda uma guerra contra os traficantes do Rio de Janeiro. Ele tem agido assim. Com a ajuda do presidente Lula, montou um arsenal poderoso que está à disposição da polícia para sustentar o confronto.”
Nessa reportagem nós vemos um quadro com os gastos que o governo do RJ investiu em armamentos e equipamentos de segurança, em contraponto aos gastos com projetos sociais e obras que se referem à cidadania.
“Esse quadro tira as últimas dúvidas de que está consolidada a crença de que a segurança pública se faz primeiramente com o combate à violência. Depois, muito depois, haverá espaço para os projetos sociais. Isso, se a guerra for vencida. Mas, por enquanto, a cobra está fumando.”
E aí vem de novo aquela pergunta da postagem anterior: Pra que insistir em usar água oxigenada ou mertiolate se a solução mais sábia (e menos “ardida”) para tratar dessas feridas seria trocar de sapatos?
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Mulher-Melancia também gera reflexão!
Eis que de um tempo pra cá surge um novo fenômeno midiático, a famosa Mulher-Melancia. Apesar desse fenômeno ainda representar o culto ao corpo e à imagem – fato típico da nossa sociedade do espetáculo –, ela está longe desse “padrão magricela”. Mas Andressa – verdadeiro nome da persona – ainda é alvo de frequentes críticas. Além das reclamações sobre vulgaridade e futilidade, as mesmas pessoas que criticam o “padrão magricela” chamam Andressa de gorda e feia. (Contraditório, não?)
Sempre tive a impressão de que quanto mais popular o objeto, mais críticas negativas recebe. O próprio Samba - um de nossos símbolos nacionais - já passou por isso. Quanto mais “pop” mais “merda”. De fato, esse fenômeno frutífero de melancias, moranguinhos e jacas não é nada educador, conscientizador ou politizador, mas nós sabemos muito bem que o propósito da grande mídia (talvez infelizmente) não é esse. O grande propósito é o entreterimento. E é isso que as próprias pessoas têm buscado nos meios de comunicação. A mídia para mim não é essa entidade toda poderosa que faz o que bem entende, na minha opinião ela está mais para uma caricatura da sociedade. Os meios de comunicação veiculam aquilo que as pessoas desejam consumir, existe uma demanda pra esses “lixos midiáticos” - como muitos consideram. A maioria das pessoas realmente querem ver a Mulher-Melancia na TV. Ou seja, paralelamente com uma mudança da mídia em sí, é necessário uma mudança nos desejos e expectativas das pessoas. Coisa que não é nada simples.
("Só mesmo com a revolução", diriam os marxistas)
quinta-feira, 19 de junho de 2008
O Funk é Rastafári!
Isso não lembra os bailes funk com sua "posição da rã", "créu" e afins? Pois é, só que o som que escutamos atrás não é o batidão carioca, e sim o Dancehall jamaicano. Com suas batidas nervosas e muitos efeitos eletrônicos, o Dancehall é filho do Reggae e pai do HipHop. Aquela calma de Bob Marley e The Wailers foi substituída pela agressividade de Yellowman e Shabba Ranks. Os jamaicanos foram os primeiros que botaram um disco pra rolar e começaram a rimar por cima das batidas. Um MC – na Jamaica chamado de toaster – cantava por cima de batidas dançantes tocadas por um DJ – na Jamaica chamado de selector. Posteriormente essa cultura foi “exportada” para os EUA, ajudando assim na concepção do HipHop.


Os bailes daqui e de lá também são parecidos, os DJs/selectors são encarregados de botar os discos pra rolarem e os MCs/toasters ficam com a responsabilidade de animar o público. Até as danças rebolativas são semelhantes, vendo vídeos de festas de Dancehall é fácil de comparar (e até se confundir) com bailes cariocas. Só que aqui no Rio predominam as equipes de som e na Jamaica os Sound System, que na verdade são como equipes de som mas normalmente todos os equipamentos e aparelhagem são ligados no meio da rua, em locais públicos. É uma verdadeira intervenção urbana.
O Funk e o Dancehall são estilos marginalizados e, tanto no Brasil como na Jamaica, podem servir como termômetro da realidade das periferias. Tanto aqui no Rio quanto lá em Kingston, os dois estilos recebem forte preconceito, sendo considerados de “baixo nível”, “música de vagabundo” etc. Sexo e violência explícitos são assuntos que a sociedade normalmente prefere abafar.

Mertiolate ou água-oxigenada ?
Em meios a várias discussões, uma questão ficou em evidência quando três garotos foram assassinados depois de serem entregues a uma facção rival por soldados do exército: Será que o exército está preparado para cuidar da segurança pública no Rio de Janeiro?
Uma classe média amedrontada pressiona as autoridades a tomarem alguma medida para reverter a situação da violência no Rio. Tentando mostrar serviço, essas autoridades ficam se perguntando quem será mais capaz de manter os bandidos "na rédea". PM, Bope, Exército, Força Nacional de Segurança e até as milícias foram postas como opção. Isso pra mim é igual a escolher se vai usar mertiolate ou água-oxigenada para tratar das feridas que fez ao usar um sapato apertado, mas quando tinha a opção de trocá-lo por um sapato mais confortável.
Qualquer pessoa com um pensamento mais perspicaz e uma visão mais crítica sabe que a repressão em regiões carentes é dura e agressiva faz tempo, mas mesmo assim não vemos avanços relacionados à criminalidade. As autoridades fingem não ver que essa não é a solução mais eficaz e, mesmo sabendo que isso não vai reverter a situação, ainda fazem com que a opinião pública fique a favor do aumento de policiamento e coisas do tipo, declarando uma guerra contra os pobres.

Uma pessoa pode insistir em usar um sapato apertado, mas sabe que terá que passar o resto da vida tendo que escolher se vai usar o mertiolate ou a água-oxigenada para tratar das feridas. A escolha mais correta e inteligente (e menos "ardida") seria trocar de sapatos, curando assim a causa do problema.
terça-feira, 17 de junho de 2008
"Por traz de cada tatuagem há uma história"

O canal People & Arts traz a sua programação recheada de reality shows, e dia 17 de junho mais uma série vai ser incluída nesse vasto cardápio. Trata-se do LA Ink. Assim como o seu “irmão mais velho” Miami Ink, esse reality vai retratar o dia-a-dia de um estúdio de tatuagem, mas dessa vez localizado em Los Angeles.
No final da temporada de Miami Ink, o rabugento Ami James se desentendeu seriamente com a novata, porém talentosa, Kat Von D. Antes da briga a tatuadora já não se sentia confortável em Miami, tudo isso fez com que ela voltasse à sua terra natal e se juntasse a uma nova equipe para estrelar o seu próprio show, no seu próprio estúdio.
Não são só os amantes da arte cutânea que vão se interessar pela série. LA Ink deve reunir todos os elementos encontrados em reality shows: drama, humor, tensão etc. Nos mesmos moldes de seu antecessor, a série vai explorar o lado emotivo das tatuagens. Cada novo cliente conta a motivação e a história que existe por traz da tatuagem desejada – é óbvio que existe uma seleção prévia das melhores histórias –, e os tatuadores funcionam como uma espécie de psicanalista, analisando e opinando sobre tais histórias.
Tomara que o excesso de tragédias pessoais e sentimentalismo não sejam iguais ao que encontramos em Miami Ink, pois isso torna os episódios cansativos em alguns momentos. Na série anterior o apelo dramático era muito grande, poucas vezes apareciam tatuagens bem-humoradas e “exóticas”, como foi o caso onde uma senhora eternizou em sua pele o retrato de um sanduíche onde se via uma mancha de manteiga que lembrava uma imagem de Santa Maria.

Nós já vimos que não é só de metaleiros e motoqueiros que se faz um estúdio de tatuagem em Miami, e agora é a hora de vermos se na terra de Hollywood as coisas também são por aí. Mas independente das cidades, esses dois programas são boas opções dentro dos realities da TV paga, pois trazem uma temática interessante que é a arte milenar de se tatuar.
domingo, 1 de junho de 2008
O programa "carioca" da MTV: 15 Minutos.
A produção da MTV procurou Marcelo Adnet depois de ver alguns de seus vídeos caseiros postados na internet e se interessaram pelo seu carisma e talento cômico. Um dos maiores diferencias do 15 Minutos para os outros programas da MTV é o fato de ser “essencialmente carioca”, o sotaque do Rio toma o lugar daquele estereótipo de VJs paulistas. Ou seja, é um programa carioca dentro de uma emissora paulistana. Isso também fica evidente no “estilo carioca” de humor, jovens do Rio se identificarão com as palhaçadas e brincadeiras de Marcelo e Quiabo, desde paródias com hinos de clubes de futebol até deboches sobre paulistas e mineiros.
Parte do programa é conduzida pelos emails enviados por telespectadores, cada email incentiva um novo assunto. Isso faz com que a espontaneidade e a interatividade sejam pontos fortes desse bem humorado programa. Marcelo Adnet é realmente talentoso, ele faz imitações engraçadíssimas, transforma temas bobos e cotidianos em motivo de chacota, e tudo com um ar de naturalidade impressionante. Essas características nos remetem aos milhares de vídeos caseiros feitos por grupos de amigos e compartilhados no site youtube e seus similares, o 15 Minutos realmente parece uma brincadeira relaxada e corriqueira entre dois amigos.

DVD do filme "Eu Sou A Lenda" traz final alternativo.

Nesse mês de maio foi lançado o DVD duplo do filme “Eu Sou A Lenda”, que tem como protagonistas Will Smith e a brasileira Alice Braga. O filme, que é a terceira adaptação cinematográfica de um livro homônimo escrito por Richard Matheson, foi dirigido por Francis Lawrence (Constantine) e teve uma grande promoção pelo Brasil na época de seu lançamento.
Um vírus mutante se espalhou por Nova York, dizimando parte da população e transformando a outra em zumbis sensíveis à luz do sol. Com essa praga a ilha de Manhattan foi evacuada, mas Robert Neville – um virologista militar que tem imunidade ao vírus – continuou no “Ground Zero” tentando desenvolver um antídoto com seu próprio sangue e procurando por outros sobreviventes. Há três anos Neville deixa mensagens pelas ondas de rádio e faz incursões pela cidade ao lado de sua companheira canina, e sempre sendo atormentado pelos “caçadores das trevas”, que já não apresentam muitos traços de humanidade.
Apesar de boa parte do filme ser quase um “monólogo” e dessa temática de zumbis mutantes ser exaustivamente explorada, a atenção do público fica presa com o carisma de Will Smith e, principalmente, com o cenário de uma Nova York abandonada e desabitada – os efeitos da solidão do protagonista não são tão explorados, mas dá pra sentir o drama que seria viver completamente sozinho, e ainda por cima com criaturas querendo te devorar.

O entreterimento do filme, as imagens de uma metrópole abandonada, o drama do “último” ser humano e algumas dúzias de zumbis medonhos são bons motivos para o aluguel ou à compra desse DVD lançado pela Warner.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Desnaturalizando nossos valores.

Essa idéia de sonho e de direitos é relativamente nova na história da humanidade, assim como a livre iniciativa, o individualismo e muitos outros conceitos naturalizados nos dias de hoje. Pra entender a formação desses valores é preciso viajar no tempo e ver as diversas transformações pelo que o pensamento humano já passou. Foi só a partir de uns três séculos para cá que o pensamento moderno veio se formando no mundo ocidental, o que é um processo muito recente em termos de História. Foi na Idade Moderna que o nosso modo de vida foi criado e consolidado, dou ênfase no termo “criado” pois muita gente tem a impressão que toda essa ideologia de hoje é uma coisa inata à natureza humana, que a nossa mentalidade sempre foi a mesma. Mas isso está longe de ser verdade, a mentalidade do homem já foi muito diferente.
As constituições nacionais e os direitos que estamos tão acostumados, por exemplo, eram totalmente diferentes na Idade Média. Todas as regras partiam da religião, era a Igreja que ditava as leis e os valores a serem seguidos. Mobilidade social e liberdade de escolha eram algumas das coisas que simplesmente não passavam pela cabeça das pessoas naquela época (de modo generalizado, claro). A monarquia era amplamente aceita, as pessoas realmente acreditavam que o rei era um enviado de Deus para governar, além de outras crenças. Só com o enfraquecimento da igreja que outras instituições ascenderam como os “criadores da verdade”. Foi aí que entrou em cena a ciência, a utilização da razão em contradição aos dogmas da Igreja. E, posteriormente, com a explosão da revolução industrial, todos os valores da humanidade foram radicalmente transformados. Podemos dizer que nesse momento a burguesia se tornou a classe dominante e conseqüentemente tomou esse lugar de poder que antes já tinha pertencido à Igreja. A Idade Moderna era oficialmente inaugurada.
É bom lembrar também que nem sempre o passar do tempo é visto como uma evolução linear. Por exemplo, muita gente considera a queda do Império Romano como um retrocesso para a humanidade, pois consideram a Idade Média atrasada em relação a alguns aspectos da História Antiga.
O que eu quis mostrar com essa rápida passagem histórica foi: como as leis, a moral, a ética e todos nossos conceitos são criados e transformados a partir de um contexto, e não são da natureza humana. A liberdade econômica, a liberdade de escolher com quem vai se casar, de escolher a profissão que vai seguir, esses não são valores inatos ao ser humano, são valores construídos. Não estou aqui pra julgar qual visão de mundo é melhor ou pior, só estou querendo mostrar a importância de desnaturalizar as ideologias vigentes. Ou seja, toda a mentalidade humana é mutável, o pensamento das pessoas funciona de acordo com o contexto vivido, se o contexto muda os pensamentos também mudarão.
Voltando ao meu caso em Cuba: Eu pensei como a maioria das pessoas ocidentais do século XX, meu comentário foi totalmente viável e aceitável na sociedade onde a gente vive, o que eu não percebí é que podem existir outras verdades além daquelas que nós estamos acostumados. Essas idéias são consolidadas e amplamente aceitas nos dias de hoje, mas isso não quer dizer que seja a única maneira a se seguir. Não é bom tomarmos o estilo de vida ocidental como o mais correto e perfeito, cada diferente sociedade tem seus valores e crenças em seus devidos momentos. Por isso que é tão difícil aceitar o diferente e o novo, nós tendemos a tomar nossa verdade como universal e única.
Talvez com algumas mudanças o nosso pensamento possa ser reformulado, e possamos passar a crer em coisas que antes eram impossíveis de se acreditar. Seria essencial um esforço para desnaturalizar nossos valores e nossas crenças, pois só assim conseguiremos entender melhor o complicado mundo que a gente vive.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Meu otimismo sobre a nova era da Comunicação.


Nos dias de hoje nós estamos entrando na quarta era, que seria a era da multimídia. Esse paradoxo palavra/imagem vem sendo remodelado com a ascensão das linguagens digitais. Esse processo ainda está acontecendo e nós o vivemos “ao vivo”, é um fenômeno muito recente mas que já gera conseqüências visíveis. Conseqüências que a meu ver podem ser benéficas ao processo da comunicação social e é sobre isso que vou discutir aqui, especialmente a partir da ascensão da internet e do ciberespaço.

Focalizando no advento da internet nós enxergamos quão mudada está essa relação emissor/receptor. As transmições já não acontecem exclusivamente num sentido único, cada nó dentro da rede do ciberespaço pode ser tanto transmissor como captador. Não vou ser ingênuo e dizer que agora acabou o monopólio da informação e que a plena democratização dos meios de comunicação está concluída, longe disso, mas o fato da estrutura existir já é um grande avanço nesse aspecto. O acesso ao ciberespaço e a “alfabetização digital” ainda têm grandes caminhos a serem percorridos, paralelamente com isso ainda existe uma imensa desigualdade em relação aos grandes “proprietários da informação” e aos menores, mas volto a dizer, a estrutura dessa rede já existe e o que falta são mudanças conjunturais, sócio-econômicas, etc. A estrutura do ciberespaço tende a uma maior universalização e menor totalização, ou seja, uma maior potencialidade à circulação e alcance e uma menor capacidade de controle e estagnação de informações.
Além da interatividade, a capacidade de se tornar emissor de idéias é muito mais concreta no sistema digital do que no broadcasting. É uma questão óbvia, dificilmente qualquer pessoa consegue lugar de fala numa mídia mais clássica, enquanto que no ciberespaço é muito mais fácil de conseguir (porém isso não implica que essa voz será ouvida por muitos). Normalmente as informações que não são viáveis na grande mídia podem ser viáveis dentro da rede digital. Um exemplo famoso e pioneiro na exploração desse novo espaço é o movimento do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que se trata de um grupo revolucionário baseado no estado de Chiapas, México. Utilizando de tecnologias modernas o EZLN ganhou projeção e apoio mundial, foi um movimento pós guerra-fria que se diferenciou de outros grupos militantes pelas suas teorias e práxis. Obviamente a grande mídia mexicana e mundial não demonstrou interesse em ceder lugar de voz aos guerrilheiros e uma das novidades que o EZLN implementou na sua luta foi a intensa

Isso nos mostra a potencialidade que a rede digital tem em termos de verdadeira democracia na comunicação social. Na minha opinião a situação está longe de padrões utópicos, mas é um espaço muito novo (pouco mais de 10 anos) e que já apresenta suas especificidades e diferenças em relação aos sistemas mais tradicionais que estamos acostumados. Será que tamanho otimismo é exagero ?
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
Sugestão de filme: Filhos da esperança

A história se passa na Inglaterra do ano 2027, o planeta se encontra caminhando para o fim da humanidade, faz 18 anos que as mulheres estão inférteis, faz 18 anos que nenhuma criança nasce. No início do filme vemos a notícia que a pessoa mais nova do mundo (um rapaz de 18 anos) é assassinado, e isso faz com que a triste lembrança da infertilidade volte a latejar na mente das pessoas. O planeta está mergulhado no caos e na falta de perspectivas, o governo distribui kits de suicídio e os conflitos com imigrantes estão cada vez mais graves. Além disso e do agravamento de muitos problemas sociais, o mundo não é muito diferente do que conhecemos hoje, as tecnologias super-avançadas presentes nas ficções futuristas não são presentes nessa produção, o que nos faz acreditar que daqui a 20 anos o mundo possa ser bem parecido com aquele retratado no filme.
Theo (Clive Owen) é um ex-ativista frustrado e inerte que é subitamente procurado pelos “Peixes”, que são um grupo militante que lutam pela causa dos imigrantes refugiados. Ele recebe a missão de levar uma imigrante até o “Projeto Humano”, que é uma organização clandestina e meio secreta que faz estudos sobre a infertilidade. O que Theo descobre depois é que essa jovem refugiada está grávida, ou seja, esse bebê seria o símbolo de uma nova esperança para o planeta Terra. Porém os “Peixes” pretendem usar o bebê como bandeira para a sua luta, reforçando o fato de que a nova esperança mundial vem do ventre de uma imigrante considerada ilegal e oprimida pelo Estado inglês. A mãe da criança não concorda com uma utilização política para o seu filho, então acaba fugindo com Theo e tentam chegar ao “Projeto Humano” por conta própria.
O filme é repleto de ação, reviravoltas e detalhes inteligentíssimos, eu sou capaz de ver o filme diversas vezes e cada vez notar alguma nova mensagem que o diretor quis nos passar, seja sobre preconceito, totalitarismo, falta de tolerância, etc.
Outro fato interessante são os recursos técnicos utilizados, principalmente, na fotografia do filme. Algumas seqüências chegam a ter 10 minutos de continuidade sem corte aparente, e tudo isso com uma câmera de mão ágil e móvel. Fico imaginando a dificuldade de filmar isso, por que não são cenas fáceis, são cenas cheias de ação onde a equipe precisa estar muito entrosada e ensaiada. Vendo o Making Of do filme nós temos uma noção de quanto planejamento foi preciso para realizar estas cenas.
Uma destas seqüências é dentro de um carro, o que dificulta muito por causa do espaço fechado e apertado. A solução encontrada para fazer a tomada sem cortes foi uma complexa instalação de uma câmera que entra por cima do teto do veículo e é capaz de fazer imagens em 360 graus dos 5 personagens que estão dentro do carro além da ação que acontece fora dele. Só achei esta cena no youtube com dublagem em alemão: http://br.youtube.com/watch?v=pJ0iOWhOItE.
Outra cena extraordinária é feita em meio à rebelião que acontece dentro de um campo de refugiados, o tiro está comendo solto e a seqüência é feita toda numa tomada só. Uma única câmera de mão acompanha Theo fugindo das balas e a tela fica toda respingada de sangue. Essa técnica traz muita emoção e tensão ao filme, dá aquela sensação que é uma câmera digital carregada por alguém que realmente participou dos fatos retratados no filme.

Vou fechar a postagem com uma frase que aparece num programa de rádio que as personagens escutam num momento do filme, o radialista diz: “Agora vamos tocar uma música de 2003, quando as pessoas se recusavam a aceitar que o futuro estava a um passo”. Filhos da esperança pode servir como um alerta ao caminho que o planeta vem tomando, talvez daqui a pouco seja tarde demais e todas as expectativas de um mundo melhor podem se esgotar.