quinta-feira, 19 de junho de 2008

Mertiolate ou água-oxigenada ?

Imagine que você chega em casa sempre com os calcanhares feridos por causa do sapato apertado que usa durante o dia. Chegando ao conforto do seu lar, você vai tratar o machucado e precisa escolher se vai usar mertiolate, água oxigenada ou qualquer outro desses produtos, certo? Mas será que você nunca pensou em trocar de sapatos?

Em meios a várias discussões, uma questão ficou em evidência quando três garotos foram assassinados depois de serem entregues a uma facção rival por soldados do exército: Será que o exército está preparado para cuidar da segurança pública no Rio de Janeiro?

Uma classe média amedrontada pressiona as autoridades a tomarem alguma medida para reverter a situação da violência no Rio. Tentando mostrar serviço, essas autoridades ficam se perguntando quem será mais capaz de manter os bandidos "na rédea". PM, Bope, Exército, Força Nacional de Segurança e até as milícias foram postas como opção. Isso pra mim é igual a escolher se vai usar mertiolate ou água-oxigenada para tratar das feridas que fez ao usar um sapato apertado, mas quando tinha a opção de trocá-lo por um sapato mais confortável.

Qualquer pessoa com um pensamento mais perspicaz e uma visão mais crítica sabe que a repressão em regiões carentes é dura e agressiva faz tempo, mas mesmo assim não vemos avanços relacionados à criminalidade. As autoridades fingem não ver que essa não é a solução mais eficaz e, mesmo sabendo que isso não vai reverter a situação, ainda fazem com que a opinião pública fique a favor do aumento de policiamento e coisas do tipo, declarando uma guerra contra os pobres.
Não seria uma surpresa se, ao analisarmos as contas do governo, os gastos públicos em segurança forem o dobro dos gastos com educação, por exemplo. Isso nos mostra como a nossa sociedade está doente, e ainda por cima utilizando os medicamentos errados. Não vai ser a repressão que vai fazer o garoto de 15 anos deixar de largar a escola e entrar para o tráfico, não vai ser o “Capitão Nascimento” que vai fazer com que os jovens desistam da vida do crime. As soluções são outras, mas as autoridades parecem não se interessarem nisso. As políticas de segurança do Rio se preocupam mais em punir do que em evitar os crimes.

Uma pessoa pode insistir em usar um sapato apertado, mas sabe que terá que passar o resto da vida tendo que escolher se vai usar o mertiolate ou a água-oxigenada para tratar das feridas. A escolha mais correta e inteligente (e menos "ardida") seria trocar de sapatos, curando assim a causa do problema.

Um comentário:

Gi disse...

Seu texto me lembra muito aqueles discursos propagados pelo Wagner Montes, no Balanço Geral, da Record. Lá, o apresentador "escraaacha" os bandidos, apóia a ofensiva da polícia em matá-los e nem sequer propõe nada que resolva as raízes do problema (ou, como você prefere dizer, nada que possibilite a troca do sapato). O pior de tudo é ver que isso faz sucesso, que o senso comum elege essa posição de ataque como a correta, embora a própria massa da população sofra com isso.
Mais lastimável ainda é notar que as supostas autoridades com poder de resolver a situação atual são as mais corruptas e mentirosas (sinceramente, eu acho que eles fazem um curso de artes cênicas antes de entrarem na política). Um exemplo disso foi a operação de ontem: R$ 700 mil de obras sociais do PAC, para a construção de casas e saneamento, foram simplesmente "desviados". Ou seja, quando alguém resolve fazer algo para mudar (ou disfarçar melhor) o que está acontecendo, vem um bando de ladrão para roubar tudo. Assim como vem um bando de militares do Exército para condenar a vida de 3 jovens (nesse caso) para sempre.
Ladrões poderosos, bandidos pobres e miseráveis, população sem saber o que fazer: todos misturados, agindo ou não, em um país onde, atualmente, não há muitas opções para trocar de sapato.

Ah, aproveita pra visitar meu blog também ;)

Beijos