domingo, 26 de abril de 2009

Vai começar a putaria.

Bem leitores, o atual insight me veio quando eu estava fazendo um estudo compenetrado, sério e minucioso sobre vídeos da Mulher Filé no Youtube. Quem me conhece sabe que sou um funkeiro assumido e, aproveitando que o tema voltou a surgir na postagem anterior do meu colega insone, resolvi dar o ar das graças por aqui de novo. (Depois de uns 6 meses sem postar nada.)

Estava a analisar as danças e performances da Mulher Filé – com toda sua volúpia e remelexo – quando comecei a reparar que boa parte dos comentários eram agressivos, xingando e humilhando a dançarina. Isso me fez ficar perguntando: "Por que será que essa coitada é tão odiada? Ela não está fazendo mal a ninguém... Será que é tudo recalque e preconceito?". Em defesa de Yani De Simone, verdadeiro nome da Filé, fui recorrer ao meu background de idéias e teorias para ver se eu conseguia formular uma resposta objetiva para essas perguntas.

Logo de cara vale lembrar uma de minhas posições sobre o Funk Carioca: Trata-se de um gênero musical voltado pra pista de dança, pra descontração, pra diversão e catarse. Desde o início foi assim e, diferente do HipHop por exemplo, sua origem não foi necessariamente associada à música de protesto social ou educacional. (Não vou entrar no mérito de isso ser bom ou ruim, é apenas o fato). Sensualidade e apelo sexual são facetas dessa catarse funkeira. E isso vem desde o Miami Bass.
Considero que a religião seja o maior responsável pelo tabu criado em volta do sexo. Hoje nós vivemos numa sociedade secular/laica, onde nossos valores deveriam ser neutros em relação aos dogmas da igreja, porém é evidente que a herança religiosa ainda é fortíssima mesmo nas pessoas que não se consideram seguidoras de certa religião. Por isso eu entendo parte dos preconceitos e rótulos de “vulgaridade” que certas manifestações recebem, mas defendo com convicção que esse tabu deva ser deixado cada vez mais pra trás.

Eu sinceramente não vejo problema algum quando adultos esclarecidos e bem resolvidos dançam, cantam ou falam putaria. Não vejo como a putaria pode ser tão maléfica a ponto de a crucificarem tanto. Putaria não é violência, não é roubo, não é assassinato, não é ofensa (apesar de certas pessoas considerarem). Dançarinas rebolativas e MCs boca-suja não fazem mal a ninguém com seus trabalhos, são apenas alguns dos instrumentos do espetáculo sensorial da catarse funkeira. O objetivo é o entreterimento.

Uma questão delicada é a de quando o apelo sexual atinge crianças. Eu tenho uma irmã de 8 anos e realmente não gostaria que ela tivesse contato com certas coisas. Não acho sadio uma criança ter envolvimento precoce com o sexo, pode ser realmente um crime contra a infância. Mas o público alvo do Funk são os freqüentadores de bailes e festas que supostamente devem proibir a entrada de menores. Se essa censura não é respeitada o culpado não é o gênero Funk, nem as dançarinas, nem os MCs, e sim os realizadores do evento. O mesmo se aplica às transmissões de rádio e TV, deve-se ter a decência de não querer explorar o IBOPE sem um mínimo de escrúpulo, tudo tem seu limite.

Outra coisa delicada nesse assunto é cair na temida armadilha do machismo. Às vezes eu mesmo fico receoso de ser considerado um ogro machista por defender o Funk putaria. As feministas de plantão podem muito bem ficar indagando: "Que absurdo essas dançarinas se exibindo! São consideradas verdadeiras peças de carne, objetos sexuais!". Mas cada vez mais eu vejo que existe uma tendência interessante no mundo do Funk.
As MCs e dançarinas assumem certa responsabilidade na luta contra o machismo – mesmo inconscientes disso – quando assumem o lugar de "devoradoras de homens". É como se os papéis se invertessem, em vez do machão se gabar que é pegador e garanhão, são as mulheres que assumem esse papel, transferindo o posto de objeto sexual para os homens. Quando as meninas das Gaiolas das Popozudas cantam "Agora sou piranha e ninguém vai me segurar!" é como se fosse um grito de liberação. A própria Mulher Filé brinca com essa inversão de papéis quando zoa um amante de "lulu pequeno". Veja o vídeo.

Ah, leitores anônimos e não-anônimos, podem me criticar a vontade, mas sejam tolerantes e não critiquem a pobre Mulher Filé. Tadinha... O seu único crime é mexer com o imaginário dos homens.
Tem um detalhe interessante sobre ela: o Mister Catra descobriu a Yani num baile mesmo, diferente dessas outras "Mulher-Alguma-Coisa" que são mais artificiais, não são funkeiras legítimas. Ela também se diferencia das outras pelo seu jeito de dançar, com passinhos originais e performáticos – como o "pisca-pisca" e o "caixa-eletrônico". Já vi ao vivo algumas vezes e sei que ela tem habilidades que não é pra qualquer um. Risos.

3 comentários:

serialsilly disse...

Filosofando o funk no Brasil...

Anônimo disse...

a sensualidade é uma função essencial do bem estar do ser humano, e está amarrada a uma idade adequada, regida pelos hormônios. trocando em miúdos, crianças não devem vivenciar a sensualidade antes da hora, e é isso que monstros deseducacionais como maria das graças meneghel e caterva destilam nas tevês abertas para baixinhos.

* Isííh* disse...

Ah meeeu naada mesmo contra o funk !
Mas eu acho que hoje em dia o funk não tem sensualidade nenhuma pelo contrario qual é a graça de ver sempre um monte de mulheres empinando a bunda ou fazendo passos de danças como posições sexuais ! Não vejo graça nisso...