quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Funk Carioca: O seu batismo.

Hoje em dia ao se falar de Funk o que vem à mente da maioria das pessoas é o ritmo dos diversos "bondes" e Mc’s cariocas, mas na verdade este termo originalmente se refere a outras coisas. Ao se falar da origem do termo FUNK CARIOCA nós acabamos falando também de boa parte da história desse estilo, o "batismo" do Funk está diretamente relacionado com o desenvolvimento e apropriações musicais que originaram o pancadão contemporâneo.

Na década de 70 as festas de black music já eram uma realidade, mas alguns bailes (primeiramente comandados por Big Boy e Ademir Lemos) começaram a se dedicar mais ao som do funk americano, conhecido também como soul music (James Brown, Kool & The Gang, Earth Wind and Fire, Tony Tornado, Tim Maia, Sandra de Sá, etc). Esse bailes, que deixavam o rock e o pop mais de lado, se concentravam em clubes na zona norte do Rio, sem local fixo. O sucesso de público dessas festas, que chegavam a atrair 10.000 pessoas numa noite, despertou interesse de produtores e foi assim que surgiram as primeiras equipes de som. Em meados dos anos 70 já existiam cerca de 300 equipes de som atuando no Rio, entre elas Sound Grand Prix, Furacão 2000, Hollywood, Big Mix, etc.
Nessa época os bailes eram bem diferentes do que os de hoje em dia, eram festas mais de cultura black power e ainda não existia essa cultura de "thuthuca e popozão". Existem várias teorias de como esses bailes começaram a ganhar o formato que conhecemos hoje, a mais óbvia seria que os Djs da primeira leva ficaram velhos e seus substitutos traziam influências diferentes daquelas da soul music mais "clássica", como o Hip Hop e R’n’B. Mas é certo que os bailes só tomaram o rumo para virar o que é hoje na década de 80, com a entrada do estilo Miami Bass no repertório dos Djs, que pode ser considerada uma vertente mais eletrônica do Hip Hop (exemplo: Afrika Bambataa - Planet Rock).

O Miami Bass é um estilo da Florida que tem como características um BPM acelerado e graves bem marcantes. Segundo o Dj Marlboro, "o Miami Bass estorou no Brasil antes mesmo de estourar nos EUA. Uma explicação pra isso pode ser a batida mais grave das baterias eletrônicas, que tem semelhança com o nosso surdo do samba". Outros fatores que contribuiram para o sucesso desse estilo nos bailes cariocas podem ser: o ambiente latino e praiano que o Rio e Miami compartilham, as letras descontraídas e cômicas (diferente do Rap engajado), as vezes de apelo sexual, e o forte potencial dançante de suas melodias e batidas. Esse estilo caiu como uma luva para os produtores e foi super aceito pelo público.
Umas das curiosidades desse período foi a criação dos melôs. Na noite era tocada 100% de música internacional, e como o público não tinha conhecimento da língua inglesa surgiram versões "abrasileiradas" cantadas por cima da música original. Assim também era mais fácil para as pessoas trocarem informações sobre as músicas, pois muita gente ficava constrangida por não saber pronunciar aquele nome em inglês. Alguns exemplos são: "You Talk Too Much" que virou "Taca Tomate", conhecido como melô do tomate, ou "It’s Automatic" que virou o melô do "Thothomere".
Para o início das produções em língua portuguesa foi um pulo, a partir do meio dos anos 90 alguns bailes já tocavam 100% de música nacional. A roupagem de Miami Bass foi preenchida com influências nacionais e virou o Funk que conhecemos hoje.
Mas enfim, como eu disse, falar da história desse estilo é o mesmo que falar de onde vem o nome FUNK. O nosso "Miami Bass abrasileirado" é chamado de Funk pois na transição dos antigos bailes funks (onde se tocava funk americano, soul music) para os "modernos" (que tocam Miami Bass), a nomenclatura não foi trocada, ou seja, as pessoas continuaram dizendo "Estou indo ao baile Funk". Mesmo sem influência direta do Funk americano, o termo foi mantido até hoje para se referir a esse estilo tocado nos bailes e festas do Rio de Janeiro. Você pode falar que James Brown é o pai do Funk americano, mas do Funk carioca ele é no máximo um tio-avô.

Espero ter feito vocês compreenderem um pouco sobre essa confusão que existe entre o Funk de James Brown e o Funk do Mister Catra, um problema de nomenclatura mas que para a multidão dançante não atrapalha em nada, já que festa é festa e o que importa é curtir e dançar. Uma coisa que eu sempre insisto em dizer, independente da qualidade musical do Funk, ele desempenha sua função com maestria, que é não deixar ninguém parado a noite toda. Muita gente ainda descrimina esse estilo carioca, mas é só olhar para as pistas de dança (e hoje em dia também para alguns lugares mainstream da mídia) e ver como o pancadão é bem sucedido. Isso dá assunto para uma próxima postagem ;)

5 comentários:

Anônimo disse...

Meu camarada, dizer que Funk de James Brown e o Funk carioca são diferentes, é como dizer que vinho e água de esgoto também são. O funk dos mestres além de melodioso e cheio de atitude vai mil vezes além desse funk sem letra e que se preocupa apenas com mentes desprovidas de tudo.

De qualquer forma, um abraço e um Feliz Ano Novo.

Vlad Pontes disse...

Na minha próxima postagem vou tratar um pouco sobre a descriminação que o funk carioca sofre. Descriminação muitas vezes infundadas e baseadas em impressões superficiais, como esse comentário acima.


Letra traduzida da música mais famosa de James Brown:
Oh, Eu me sinto bem, eu sabia que me sentiria
Eu me sinto bem, sabia que me sentiria
Tão bem, tão bem, por ter você
Oh, Eu me sinto bem, como açucar e tempeiro
Eu me sinto bem, como açucar e tempeiro
Tão bem, tão bem, porque tenho você
Quando te tenho em meus braços
Sei que não posso fazer nada de errado
E quando te tenho em meus braços
O meu amor não te fará mal algum
E eu me sinto bem, como açucar e tempeiro
Eu me sinto bem, como açucar e tempeiro
Tão bem, tão bem, por que eu tenho você
Quando te tenho em meus braços
Sei que não posso fazer nada de errado
E quando te tenho em meus braços
O meu amor não te fará mal algum
E eu me sinto bem, como açucar e tempeiro
Eu me sinto bem, como açucar e tempeiro
Tão bem, tão bem, Bem, porque eu tenho você
Oh, eu me sinto bem, eu sabia que me sentiria
Eu me sinto bem, eu sabia que me sentiria
Tão bem, tão bem, porque eu tenho você
Tão bem, tão bem, porque eu tenho você
Tão bem, tão bem, porque eu tenho você
Ei, oh, sim


Letra de um funk do cidinho e doca:
Eu só quero é ser feliz
Andar tranqüilamente
Na favela onde eu nasci
É...
E poder me orgulhar
E ter a consciência
Que o pobre tem seu lugar

Minha cara autoridade eu já não sei o que fazer
Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e alegria que caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido a tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não agüento mais essa onda de violência
Só peço autoridades um pouco mais de competência

Diversão hoje em dia não podemos nem pensar
Pois até lá nos bailes eles vem nós humilhar
Ficar lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não tem nada haver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra zona sul pra conhecer água de cocô
E o pobre na favela vive passando sufoco
Trocaram a presidência uma nova esperança
Sofri na tempesdade agora eu quero abonança
Povo tem a força, precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada faremos tudo daqui

Quero ouvir

Eu só quero é ser feliz
Andar tranqüilamente
Na favela onde eu nasci
É...
E poder me orgulhar
E ter a consciência
Que o pobre tem seu lugar


A comparação entre "vinho e água de esgoto" se aplica nisso aí ?

∂уυк.°°° disse...

para quem gosta de funk FUNK mesmo e chato e soa desagradavel ouvir algumas musicas ai sendo chamadas de funk, pois a maioria desse pessoal nem mesmo tem noçao do que é ou ouviu um funk sequer na vida, pois o que se toca por ai e um sbstrato muito ruim do miami bass, mais passa longe de funk, como é vendido para os brasileiros. isso surgiu quando os djs como o marlboro e outros resolveram ganhar uma graninha montando gravadoras e tinham que arrumar o que vender ja que não ganhavam nada tocando MIAMI BASS. acabou virando uma grande febre.nao deixa de ser uma manifestação cultural.não é esgoto!! + passa longe de funk...

Poeta da terceridade disse...

salve salve, estou fazendo um projeto de inclusão de funk como expressão cultural Brasileira e queria saber se você conhece fora a pesquisa de campo alguém que eu possa pesquisar, bibliografias e afins, pois afinal quem conhece funk sabe que é luta sociAL, é a voz, o palavrão de quem ta cansado, de engolir a cultura hegemônica, afinal, estou começando a achar que os homens de bem como eles se denominam estão pedindo licença para penetrar nas mulheres, aram! é bem assim que funciona o funk incomoda pois instiga é depravado é o que você tem vontade de fazer, falar mas finge ser certinho, sex machine? desculpa de quem é mesmo... um tal de James Brown.... desculpa as letras são machistas, mas o Maluf também é, a lei também é, o mundo também é... pelo menos temos a MC' Kátia para nos defender, agora em uma ópera? em uma orquestra brasileira quantas maestras você conhece, na igreja quantas papas você já ouviu falar, agora sobre escandalos de pedofilia hummmm... temos quem mesmo? fora isso BOTA O MELão PRA QUICAR... ou você ai de cima é um daqueles homens que se fingem de educados, pra depois na cama pedir um fio terra? Quanto maior o recalque maior a distância com o inconsciente!

Poeta da terceridade disse...

salve salve, estou fazendo um projeto de inclusão de funk como expressão cultural Brasileira e queria saber se você conhece fora a pesquisa de campo alguém que eu possa pesquisar, bibliografias e afins, pois afinal quem conhece funk sabe que é luta sociAL, é a voz, o palavrão de quem ta cansado, de engolir a cultura hegemônica, afinal, estou começando a achar que os homens de bem como eles se denominam estão pedindo licença para penetrar nas mulheres, aram! é bem assim que funciona o funk incomoda pois instiga é depravado é o que você tem vontade de fazer, falar mas finge ser certinho, sex machine? desculpa de quem é mesmo... um tal de James Brown.... desculpa as letras são machistas, mas o Maluf também é, a lei também é, o mundo também é... pelo menos temos a MC' Kátia para nos defender, agora em uma ópera? em uma orquestra brasileira quantas maestras você conhece, na igreja quantas papas você já ouviu falar, agora sobre escandalos de pedofilia hummmm... temos quem mesmo? fora isso BOTA O MELão PRA QUICAR... ou você ai de cima é um daqueles homens que se fingem de educados, pra depois na cama pedir um fio terra? Quanto maior o recalque maior a distância com o inconsciente!