sexta-feira, 23 de março de 2012

Análise: destrinchando o vídeo "Para Nossa Alegria"

O presente trabalho busca analisar as relações familiares e a psico-personalidade de cada personagem-sujeito do vídeo caseiro encontrado abaixo. O artigo foi apresentado na conferência bilíngue Cognitive Studies On Domestic Ambients, realizada na Università Finestra di Ananasso (Roma - Itália).


Começaremos com Suelen, a irmã. Claramente notamos que a menina tenta atrair toda a atenção para si, almejando ser o personagem principal da peça audiovisual. Nos deparamos com o mais característico exemplo paradigmático de adolescente dominadora e controladora, mas que no fundo de seu âmago subjetivo é carente de atenção e, por causa de seu caráter falho, tenta manter uma posição de liderança dentro do círculo da família, subjugando os outros membros de seu núcleo familiar a fim de se sentir mais segura consigo mesma (como fará com seu irmão Jefferson, visando ridicularizá-lo, mas disso falaremos a seguir). Suelen assume o papel de uma espécie de ditador dentro de seu micro-cosmo.

Quem também possui grave desequilíbrio emocional é Mara, a mãe. Nota-se que desde o início do vídeo ela não está confortável com a situação. Com seus braços cruzados indicando uma postura defensiva e fechada, Mara lança incessantes olhares para Suelen, que, como supracitado, faz o papel de um suposto líder implacável no núcleo familiar. Esses olhares são verdadeiros pedidos de ajuda e afago. Mara está numa posição em que não se sente a vontade: sendo filmada para um público que domina razoavelmente tecnologias da informática que nunca dominou. Ou seja, seu porto-seguro seria alguém habituado com tais tecnologias e que poderia servir de guia nesse novo mundo do ciberespaço online. Logo, por conseguinte, sua filha Suelen, que é usuária do Orkut há anos, é o ator social perfeito para oferecer-lhe reconforto. O melhor exemplo dessa dependência afetiva é vista aos 01:10, quando Mara hesita em continuar cantando a canção sem a companhia da filha.

Por último, mas não menos importante, analisaremos o comportamento de Jefferson, o irmão. Rapaz de sorriso aberto e notável talento musical, Jefferson surpreende a todos quando solta a voz e, para nossa alegria, presenteia o mundo com seu dom de cantor barítono, atingindo tons de tenor solista. Porém, Jeff sofre perversas represálias por parte de sua irmã dominadora e sua mãe insegura. Nitidamente ofuscada pelo primor musical de seu irmão, Suelen apela para uma nada espontânea crise de risos (atitude normal em outros estudos de casos semelhantes), tentando desmoralizar Jeff, que continua a tocar seu instrumento de cordas elegantemente. A insegura Mara, também ofuscada e desmoralizada, sente-se rebaixada e nem ao menos tenta se impor na situação, levantando do sofá e desistindo de participar daquele momento que deveria ser de prazer e partilhamento.

Provavelmente, não existe a presença de um pai nesta família, o que ocasiona uma séria falta de referência no que diz respeito a uma figura masculina paterna para a filha, e figura matrimonial para a mãe. O único membro do núcleo familiar que lida bem com a situação é Jefferson, que, segundo nossas projeções, foi acolhido pela banda de sua igreja e que se espelha nos bons homens que o ensinaram a lapidar seu dom na música. Talvez por isso, Mara e Suelen guardem tamanho rancor de Jefferson. Parte desse sentimento é uma transferência substancial do ódio que sentem pelo pai/marido que as abandonou. Outra parte é um misto de reações psíquicas chamadas comumente de inveja, já que mãe e irmã não suportam ver Jeff desfrutando de plena satisfação em sua vida musical e social.

No entanto, não podemos esquecer que o desafiador cenário contemporâneo promove a alavancagem das posturas nas famílias nucleares com relação às suas atribuições. O que temos que ter sempre em mente é que o início da atividade geral de formação de atitudes não pode mais se dissociar das condições inegavelmente apropriadas. A certificação de metodologias que nos auxiliam a lidar com a percepção das dificuldades não pode mais se dissociar das formas de ação. Ainda assim, existem dúvidas a respeito de como o aumento do diálogo semiótico promove a efemeridade subjetiva dos relacionamentos verticais entre as hierarquias domésticas, tal qual aparecem no trio analisado.




O autor deste ensaio acadêmico é Phd em Psiquiatria Ortomolecular pela Universidade de Brasília e pesquisador-chefe no Center of Psico-cognitives Theories and Family Studies da Universidade de Neurociência de King’s College (Reino Unido) 




Referências bibliográficas:


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Um comentário:

Anônimo disse...

Uau... Somente... Uau!