sábado, 25 de dezembro de 2010

Rio de Contas - Chapada Diamantina - BA

A vantagem de viajar de carro é que o próprio caminho é uma atração a parte, e erros de percurso podem reservar boas surpresas. Parte do trajeto pelo interior da Bahia é composto por estradinhas de terra bem precárias e sem sinalização alguma, mas que proporcionam cenas que fazem todo o sentido pra quem já leu Graciliano Ramos, Euclides da Cunha ou Guimarães Rosa.

Cruzamos pequenas boiadas, beiramos lavouras, pedimos informações a trabalhadores locais, conhecemos vilarejos isolados que nunca ouviríamos falar… Casinhas de barro, cercas de galhos retorcidos, pequenos currais de pedra… Cenas típicas de uma região humilde onde predominam os pequenos agricultores e vaqueiros, com pouquissíma influência da cidade grande. No meu caso, é impossível não se identificar com esse povo sofrido porém perseverante: parte da minha família viveu essa realidade e desde moleque eu escuto histórias desse interior nordestino – ao som de Luiz Gonzaga.


Já retomando o asfalto e chegando a alguns quilômetros da Chapada Diamantina, avistamos no horizonte uma enorme serra de imponentes paredões rochosos com alguns fiapos brancos que depois se revelariam cachoeiras. A vista é fascinante! Dá vontade de acelerar cada vez mais, pra chegar mais rápido naquele chapadão. A parti daí, a estrada é só subida, passando por algumas cidades até chegar em Rio de Contas.

Rio de Contas é uma cidade histórica rica em manifestações religiosas e que já foi cenário para gravação de filmes (como Abril Despedaçado). Mas descobrimos que, pra quem procura o melhor do ecoturismo da Chapada Diamantina, se hospedar em Rio de Contas não é a melhor opção.Os melhores passeios ficam bem distantes da cidade e as estradas precárias fazem as distâncias parecem ainda mais longas. Uma melhor opção de estadia é o município de Ibicoara, que fica a 100 Km de Rio de Contas e conta com duas das cachoeiras mais bonitas da Chapada: Buracão e Fumacinha.


Para chegar na cachoeira do Buracão – onde só é permitida a visita acompanhado de um guia –, precisamos pegar uma estradinha de terra que sai do centro de Ibicoara e sobe alguns quilômetros. Depois deixamos o carro estacionado e tomamos uma trilha que dura pouco mais de uma hora. A trilha vai beirando o cânion do Rio Espalhado e durante o caminho vamos degustando alguns "aperitivos" até chegar ao objetivo final. Passamos pela cachoeira do Buraquinho e das Orquídeas, onde admiramos a vista e tiramos algumas fotos. Mas o grand finale ainda estava por vir.

Depois da subida, nós descemos pra dentro do cânion com ajuda de escadas de madeira ou então se escorando nas pedras até chegar numa grande galeria chamada Recanto Verde. Estamos rodeados de altas paredes de rocha, como se fosse uma cratera funda. Do lado direito, a uns 40 metros de altura, um riacho subterrâneo brota de dentro da pedra e cai formando uma cachoeira. Depois da queda, a água volta a desaparecer se infiltrando nas pedras. O resto da galeria é todo coberto de musgo bem verde e proporciona um visual muito louco. (Parece o planeta do filme Avatar!)

Seguindo um pouco mais pelas pedras, chegamos finalmente na parte de dentro do cânion da Cachoeira do Buracão – o grand finale! As paredes de mais de 80 metros formam um corredor onde o Rio Espalhado vai fluindo com suas águas escuras como Coca-Cola. Logo demos um mergulho e fomos nadando contra a correnteza até a galeria onde encontramos a queda d'água. Sei que é clichê falar que ‘não há palavras’, mas é exatamente assim que eu me sinto ao tentar descrever aquele lugar deslumbrante. Podem me chamar de exagerado, mas arrisco dizer que a Cachoeira do Buracão é o lugar mais lindo que já visitei. Vou postar algumas fotos, mas nada se compara à experiência de sentir a força do vento que a queda d’água provoca, de olhar o céu estreito na parte de cima daquele corredor de pedra, de agarrar entre as fendas de rochas moldadas pelo tempo, de nadar entre aqueles paredões de calcário e arenito...


No dia seguinte, não conseguimos ir até a Cachoeira da Fumacinha, porque a trilha é bem longa e o passeio precisa começar muito cedo. Como nossa pousada ficava em Rio de Contas, teríamos que acordar antes das 5 horas da manhã. Particularmente, foi uma grande frustração, mas pelo menos fica a lição pra uma próxima viagem à parte sul da Chapada.
Agora estou em Lençois, município no coração do Parque Nacional da Chapada Diamantina, e em breve escrevo as aventuras que tivemos por aqui.

Pra finalizar: UM FELIZ NATAL!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Diamantina - MG - 20 de dezembro

Ontem (dia 19), eu, meu pai e meu irmão começamos a viagem de carro que vínhamos programando há algum tempo - a caminhonete é nova e cheia de funções "trip", ideal pra viagens brabeira. Partimos de manhã de Niterói e chegamos por volta de 20h em Diamantina. Perdemos muito tempo num trecho da estrada que estava no esquema Pare-Siga por causa de uma obra. Fora isso, a viagem foi tranquila e sem muitas novidades. A paisagem só chama mais atenção quando finalmente chegamos na região do Jequitinhonha, onde notamos uma geologia diferente da que estamos acostumados no Rio. Grandes pedregulhos rachados formam serras e morros num extenso planalto.

As cidades históricas de MG são bem parecidas, quem conhece Ouro Preto e Tiradentes, por exemplo, não se surpreende com Diamantina. Ladeiras, igrejas, ruas de pedra, arquitetura de época, heranças da época de mineração e garimpo...
Hoje (dia 20), não conseguimos aproveitar muita coisa no nosso rolé pelo centro histórico da cidade, pois, pro nosso azar, a maioria das atrações não funcionam na segunda-feira. A casa de JK e da Chica da Silva - ícones da cidade - estavam fechadas para visitação. As igrejas também não são tão vistosas como as de Ouro Preto. Deu pra perceber que um dia é mais do que suficiente pra conhecer tudo.

Já que não dava pra curtir a tradição histórica da cidade, a parada era buscar aventura. Resolvemos enfrentar a Serra dos Cristais e ir até o Caminho dos Escravos, uma trilha do século XVIII construída por escravos para facilitar a vida dos tropeiros que transportavam diamantes e pedras preciosas. Apesar de originalmente ser um caminho calçado, hoje em dia as pedras estão soltas e na maioria dos trechos não conseguimos identificar o calçamento de tão desgastado. Repare na foto abaixo a distância entre o Caminho dos Escravos e a cidade ao fundo. Nos perdemos na hora de voltar, mas o perrengue valeu o dia.


Amanhã cedo pegamos estrada até Rio de Contas, que já faz parte da Chapada Diamantina, na Bahia. Estou bem ansioso para o trajeto de 780Km entre Diamantina e Rio de Contas: as rodovias do norte de Minas e interior da Bahia passam por alguns dos lugares mais ermos do Brasil. Sertão brabo! Quero ver ema, jegue, caatinga e a tração do carro sendo testada!